Segunda-feira, final de uma tarde longa, nublada e abafada. Voltando para casa de carro com minha esposa, entre conversas sobre promoções na internet e xingamentos para motoristas que dirigem como se fossem donos das ruas e pessoas idiotas que, não basta o calor, ainda acendem fogueiras para queimar lixo e contribuir com o calor e fedor de queimado.
O sinal de um cruzamento fecha para nós e, de baixo da sinaleira, um senhor, baixinho, gordinho e mancando, carrega em sua mão uma pequena pilha de panos de prato oferecendo aos seus prováveis clientes que esperam, dentro do carro, o sinal verde:
- Seis, dez real! Seis, dez real!
Não preciso de panos de prato agora. Quando ele passou ao lado da minha janela completamente aberta oferecendo seu produto, eu educadamente sorri e sacudi de um lado para o outro meu dedo indicador, num símbolo universal de “Não”, e o sorriso que complementa a negativa com “Obrigado”.
Em alto e bom som ele continua gritando
- Seis, dez real! Seis, dez real! - e fala baixo como se fosse pra ele mesmo - Pão-duro. - e volta a gritar - Seis, dez real! Seis, dez real!
“Pão-duro”? Eu?
- Ô! Amigo! Eu não sou pão-duro! Entendo que o senhor está aí, trabalhando honestamente pra garantir a comida em casa. Mas por favor, não me chama de pão duro. Eu simplesmente não estou precisando de panos de prato agora lá em casa, e por isso não compro agora com o senhor. Mas pode ter certeza que, no momento em que eu precisar de panos de prato, virei aqui neste cruzamento e comprarei direto do senhor! Pode ter certeza disso.
Na verdade isso eu pensei em falar tempos depois. O que fiz na verdade foi virar para minha esposa que estava entretida no celular:
- Tu ouviu?
- O quê?
- O cara me chamou de pão-duro!
Ela ri.
- Sério?
- Sim!Não ouvi!
- Pois é! Ele veio gritando “Seis, dez real! Seis, dez real” e de repente, mais baixo, ele fala “Pão-duro” e voltou a gritar “Seis, dez real! Seis, dez real”
Ficamos rindo por um tempo sobre isso. Afinal, não é sempre que sou chamado de pão duro. Pães-duros normalmente são ricos, exatamente porque são pães-duros. Eu estou ferrado no banco e algumas contas ainda por pagar.
Normalmente eu xingo as pessoas que me cortam a frente sem fazer o sinal para entrar à minha frente, ou pessoas que colocam fogo no lixo em dias quentes, ou pessoa que me xingam de alguma coisa. Mas nesse caso não senti nada além de graça, e um pouco de tristeza. Um senhor, provavelmente mais velho que meu próprio pai, com algum problema na perna que o fazia mancar, estava ali naquele cruzamento movimentado, em um dia abafado, vendendo seus paninhos de prato, seis a dez reais.
Uma coisa que aprendi depois de me ferrar com contas atrás de contas é que nunca estaremos satisfeitos financeiramente se ficarmos sempre comprando coisas que não precisamos e, naquele momento, panos de prato eram algo que eu realmente não precisava.
Quem sabe numa próxima oportunidade, quando eu precisar de panos de prato, talvez eu compre deste senhor, ou das crianças que também vendem seis panos de prato a dez reais nos estacionamentos dos supermercados. Eu adoraria fazer mais que isso. Mas acho que só poderei em primeiro lugar, comprar os panos de prato.